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cientistas respondem

“Máscaras de tecido ainda são eficazes?”: cientistas da UFPR esclarecem dúvidas

Além do uso de máscaras, os pesquisadores também respondem questões sobre vacinas, cuidados básicos, contaminação e reinfecção pelo novo coronavírus

Publicado em 10/05/2021 às 07:54

(Foto: Rawpixel/Arte por Gabriela Tacla)

Diante do momento crítico da pandemia no Brasil, com mais de 420 mil mortes pela doença, cientistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) responderam a perguntas enviadas pela sociedade sobre a Covid-19, a fim de reforçar os cuidados dos brasileiros.

A terceira onda da Covid e as novas variantes, responsáveis por lotar os hospitais brasileiros neste ano, reacenderam as dúvidas da população sobre a doença. Dessa forma, mais de 40 perguntas foram recebidas pela Agência Escola UFPR, com participantes de diferentes regiões do país, e esclarecidas por 11 pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento.

As perguntas fazem parte da série de reportagens Pergunte aos Cientistas, da Agência Escola UFPR, que busca aproximar o conhecimento científico da população. Com o tema “Cuidados redobrados: momento mais crítico da pandemia”, essa edição da ação aborda cuidados básicos para evitar a Covid-19, uso de máscaras, vacinação, contaminação e reinfecção pelo coronavírus, além de outros aspectos da doença questionados pela sociedade.

“Até que a vacinação em massa não ocorra no mundo todo, a principal forma de proteção individual e coletiva se dará por esses cuidados: distanciamento social, uso de máscara e higiene de mãos”, reforçam os cientistas.

Participaram dessa edição do Pergunte aos Cientistas os pesquisadores Emanuel Maltempi de Souza, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular e presidente da Comissão de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 da UFPR; Alexandra Acco, Cristina Jark Stern e Juliana Geremias Chichorro, professoras do Departamento de Farmacologia; Carlos Henrique Alves Jesus e Maria Carolina Stipp, pós-graduandos do Programa de Farmacologia da UFPR; Patrícia Dalzoto, professora do Departamento de Patologia Básica; Juliana Bello Baron Maurer e Luciano Henrique Campestrini, pesquisadores do Núcleo Paranaense de Pesquisa Científica e Educacional de Plantas Medicinais (NUPPLAMED-UFPR); Geraldo Picheth, docente do Departamento de Análises Clínicas; e Roseli Wassem, professora do Departamento de Genética da Universidade.

Confira abaixo algumas respostas dos cientistas. Mais perguntas da sociedade e respostas dos cientistas podem ser conferidas neste link.

“Minha dúvida é quanto às ofertas de máscaras: qual a mais eficaz, como higienizar e durante quantas horas elas estão realmente protegendo? Quanto à vacina, se ela não garante a prevenção de reinfecção, por que se vacinar? Sou do grupo prioritário e tenho diabetes.” (Liliane M. S. da Silva)

Cientistas UFPR – Olá, Liliane. As máscaras mais eficazes são aquelas com mais camadas ou feitas com materiais menos porosos. As máscaras de tecido podem ser usadas em ambientes abertos, onde não há muitas pessoas, e, quando possuem três camadas, conferem alta proteção, se respeitado o distanciamento social.

Essas máscaras devem ser usadas por duas a três horas ou substituídas quando ficarem úmidas. A higienização é feita deixando a máscara de molho em água sanitária diluída em água (duas colheres de sopa de água sanitária em um litro de água) por 30 minutos e depois lavando normalmente com sabão. Deixe secar e passe a ferro antes de usar novamente.

As máscaras cirúrgicas descartáveis, que podem ser compradas em farmácias, apresentam três camadas e são bastante efetivas para proteção, podendo ser usadas para ir ao mercado, por exemplo. Após duas a três horas, ou antes, se estiver úmida, a máscara deve ser descartada no lixo do banheiro.

A máscara mais eficiente é a N95 ou PFF2, produzida com material bem compacto, o que garante uma alta proteção. Essa máscara tem a vantagem de vedar bem o espaço acima do nariz e as laterais do rosto, diminuindo bastante a chance de contaminação.

Se você precisa frequentar locais com muitas pessoas, utiliza transporte público em horários de pico ou trabalha na área de saúde, essa máscara é a mais indicada. Essa máscara é reutilizável e não deve ser lavada.

Você pode usá-la por duas a três horas e depois deixá-la “descansando” por três dias, para então utilizá-la novamente. Se você precisa frequentar um local com muitas pessoas e não deseja adquirir uma máscara N95 ou PFF2, pode usar duas máscaras, uma cirúrgica descartável e outra de tecido. Isso garante uma proteção extra, mas lembre-se sempre de manter o distanciamento.

Sobre as vacinas, realmente a reinfecção é possível. Entretanto, as vacinas que são usadas no Brasil hoje (Coronavac e Oxford/AstraZeneca) conferem uma alta proteção contra as formas graves e fatais de Covid-19.

Alguns estudos evidenciam que essa proteção está entre 80% e 100%, ou seja, a chance de contrair Covid-19 e necessitar de hospitalização diminui muito. Assim, a vacinação é fundamental para que possamos reduzir a pressão no sistema de saúde e fazer com que o vírus pare de circular.

“Qual a melhor maneira de se proteger em relação ao álcool e à máscara? Todas as pessoas devem usar máscara e face shield?” (Giovanna Ferrari, 18 anos, estudante, Criciúma-SC)

Cientistas UFPR – Olá, Giovanna. A lavagem das mãos é uma ferramenta muito importante e eficaz para prevenir a transmissão do vírus. Os órgãos de saúde recomendam a lavagem das mãos com água e sabão sempre que possível. No entanto, quando a lavagem das mãos for inacessível, recomenda-se o uso de álcool em gel (com pelo menos 60% de álcool). O álcool em gel deve ser aplicado e espalhado de modo a cobrir as mãos e dedos (incluindo as unhas) até que a pele fique seca.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) as máscaras são recomendadas como medida de supressão da transmissão e ferramenta para salvar vidas. A OMS indica os seguintes passos para o uso de máscara:

1) Lavagem das mãos (ou uso de álcool em gel) antes de colocar a máscara, assim como antes e depois de retirá-la ou após qualquer momento que você tocá-la.

2) Usar a máscara de forma a cobrir totalmente o nariz, a boca e o queixo.

3) Enquanto estiver em uso, evitar tocar a máscara.

4) Quando retirar ou trocar a máscara, ela deve ser colocada em sacola plástica.

5) Máscaras de tecido devem ser lavadas todos os dias, e descartadas em lixo adequado se forem máscaras médicas.

6) Máscaras com válvulas não devem ser usadas, pois se quem a usa estiver contaminado poderá liberar partículas virais pela válvula e contaminar outras pessoas.

As máscaras devem ser utilizadas em locais fechados e com pouca ventilação (transporte público, aeroportos, local de trabalho etc). Além disso, elas devem ser utilizadas independentemente da distância entre as pessoas.

Máscaras muito largas para o rosto, máscaras feitas de materiais que dificultam a respiração ou material com frestas, ou ainda máscaras contendo apenas uma camada de tecido devem ser evitadas, pois não protegem suficientemente e dão a sensação de “falsa” proteção.

As máscaras podem não ser necessárias quando se está sozinha em local aberto ou em casa com os familiares que moram com você. No entanto, algumas áreas abertas para público exigem o uso de máscara e para isso é necessário verificar o que cada local ou cidade estipula para esse caso.

Os face shields não são substitutos para as máscaras. Apesar de permitidos como uma ferramenta adicional para a proteção dos olhos, eles não cobrem completamente a boca e o nariz contra gotículas respiratórias. Devem ser utilizados juntamente com máscara e nunca sozinhos. São uma proteção a mais, mas não há necessidade de todas as pessoas utilizarem, as máscaras adequadas ainda são a proteção facial mais recomendada.

“De que forma as novas variantes infectam mais, seria por aerossol? Por que elas são mais contagiosas? Elas ficam mais tempo nos objetos? Se sim, por quanto tempo? Elas têm mais carga viral nas gotículas? Como se prevenir melhor com máscaras, distanciamento etc.?” (Samir Gemha)

Cientistas UFPR – Olá, Samir! Esperamos que esteja bem. As novas variantes são mais infecciosas, porque:

1) O vírus adota conformações que facilitam a sua ligação ao receptor de entrada ACE2, facilitando assim a sua infectividade.

2) O vírus possui uma capacidade superior de enganar o sistema imunológico dos pacientes que já foram infectados anteriormente, favorecendo a reinfecção.

3) Os pacientes infectados parecem ter uma carga viral maior do que com o SARS-CoV-2 original, aumentando as chances de transmissão destes para outros indivíduos.

Quanto ao tempo de permanência em partículas aerossol ou em superfícies, é importante ressaltar que as novas variantes ainda vêm sendo estudadas, e, no momento, não temos informações de modo específico.

Contudo, apesar das alterações no RNA viral, a estrutura básica do vírus continua a mesma, ou seja, é provável que apresente as mesmas características do SARS-CoV-2 original quanto ao tempo de permanência em superfícies e em partículas aerossóis. Os tempos de permanência dos vírus são os seguintes em:

– Partículas aerossóis – de 40 minutos a duas horas e 30 minutos.

– Aço inoxidável > 72 horas.

– Plástico > 72 horas.

– Papelão > 24 horas.

– Cobre > 4 horas.

Por fim, para prevenção, os mesmos cuidados devem ser tomados, como uso de máscaras com três camadas de proteção; a lavagem frequente das mãos com água e sabão; o uso de álcool em gel; e o distanciamento social, pois são essenciais para diminuir o risco de contaminação, seja das variantes ou da cepa viral não-mutada.

“Após pegar Covid, quanto tempo tem que esperar para tomar a vacina? Depois que a população adulta for vacinada, quanto tempo ainda será necessário usar máscaras? A vacina da Covid será anual como a vacina da gripe?” (Luciana Emilia Machado Garcia, 40 anos, engenheira civil e servidora UFPR, Curitiba-PR)

“Quanto tempo depois de ter a Covid-19 devo esperar para tomar a vacina tanto da Covid quanto a da gripe?” (Eliane Lopes da Silva, técnica de laboratório, Curitiba-PR)

Cientistas UFPR – Oi, Luciana e Eliane. Após contrair Covid-19, o Ministério da Saúde recomenda que se aguarde 30 dias para tomar a vacina. Isso porque, como os sintomas da Covid-19 podem perdurar por algumas semanas, se você tomar a vacina antes do período de 30 dias, pode ainda ter sintomas e confundir com possíveis efeitos adversos da vacina.

Como as vacinas são muito recentes, o monitoramento dos efeitos adversos deve ser bem cuidadoso. Após receber a segunda dose da vacina contra Covid-19, aguarde, pelo menos, 14 dias para tomar a vacina contra a gripe.

O relaxamento das medidas de prevenção, como uso de máscaras e distanciamento social, somente poderá acontecer quando uma grande parte da população elegível tiver recebido as duas doses da vacina. Estima-se que a imunidade coletiva será atingida quando 70% a 80% da população estiver vacinada.

O vírus influenza (vírus da gripe) apresenta características que permitem que sofra mutações com alta frequência, o que leva ao surgimento de novas cepas.

Deste modo, a vacina da gripe é atualizada à medida que novas variantes surgem e por isso precisamos tomar a vacina todos os anos, para garantir que nos tornemos imunes às cepas em circulação.

Os coronavírus já conhecidos têm frequência de mutação menor que a observada no vírus influenza, portanto seria esperado que as novas variantes do SARS-CoV-2 não surgissem com tanta facilidade. Porém, neste momento mais crítico da pandemia, observamos uma multiplicação descontrolada do vírus e, quanto mais ele multiplica, maior a chance de surgirem novas variantes.

Como a Covid-19 é uma doença nova, ainda não temos dados suficientes sobre o SARS-CoV-2 que nos permitam determinar o intervalo entre as vacinações.

“Por gentileza, tenho uma dúvida: aqui em casa temos dúvidas sobre pedir pizza por delivery. É possível a pizza ser contaminada? Pois sabemos sobre as embalagens que devem ser limpas, mas e os alimentos quentes?” (Marcelo Luiz Devitte, 43 anos, auxiliar administrativo, Goiânia-GO)

“Pensando no contágio pelo vírus, através de um alimento que pedimos na padaria ou delivery, que pode chegar em minha casa com o vírus, pensei em colocar o alimento no micro-ondas por um tempo que exterminasse o vírus. Poderiam me dizer se já tem essa resposta comprovada?” (Wagner Gomes, 64 anos, aposentado, Ribeirão Preto-SP)

“Ganhei doces artesanais e estou com medo de comer, pois não sei se o vírus da Covid pode ser pego nesses tipos de alimentos” (Josiane Aldrighi Lemes, 48 anos, São José dos Pinhais-PR)

Cientistas UFPR – A preocupação com a contaminação em alimentos é legítima e deve estar sempre presente. Essa preocupação deve sempre ser maior quando os alimentos serão consumidos crus ou frios.

Trabalhos científicos avaliando a sobrevivência de diversos vírus em alimentos existem e incluem o SARS-Cov1, muito semelhante ao 2, causador da Covid-19.

Os resultados mostram que aquecimento, quer seja no micro-ondas ou de outra forma, eliminam o vírus se for em temperatura maior que 56⁰ C. É importante ressaltar que não são os micro-ondas que o eliminam, mas sim o calor.

Infelizmente, isso não pode ser aplicado para as embalagens, uma vez que o aquecimento por micro-ondas requer a presença de água, pois é a sua movimentação que provoca o aquecimento, e as embalagens somente são aquecidas quando o calor dos alimentos é transferido. Portanto, as embalagens devem ser tratadas com maiores cuidados.

A contaminação com o coronavírus através de superfícies contaminadas é menos provável do que a maioria de nós teme, já que requer que o vírus esteja viável na superfície e em quantidades que cheguem até as mucosas da boca, nariz e olhos.

Isso significa que é possível, sim, se contaminar através de superfície contaminada, mas é menos provável. O contágio por contato com outras pessoas e ar infectados em ambientes fechados é a forma mais eficiente e frequente. Seguir as recomendações de não colocar as mãos na boca, olhos, nariz e lavá-las periodicamente devem ser suficientes para impedir o contágio por superfícies.

O tempo de sobrevivência do vírus foi bastante estudado em diferentes superfícies, mas não se pode avaliar o quanto essas podem causar contágio em humanos, por razões éticas.

Os cuidados com as embalagens é uma forma de prevenir contaminação, uma vez que em algumas situações particulares o contágio pode ocorrer, sim. Um exemplo claro disso são situações em que a embalagem foi manipulada por alguém com Covid-19, cujas mãos podem estar intensamente contaminadas (após espirrar, por exemplo) e promover o contágio.

Alimentos que não podem ser aquecidos (como o chocolate artesanal), se estiverem contaminados, devem ter baixa quantidade de vírus se tiverem sido manipulados com o mínimo de cuidados exigido (uso de luvas e máscara), e a quantidade de partículas virais deve ir diminuindo conforme o tempo passa, até ser considerada irrelevante. É importante também ressaltar que o congelamento não elimina o vírus e deve até preservá-lo por mais tempo viável.

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